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segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Desenvolvimento infantil e Tanatologia


Representações da morte na infância e o processo de elaboração do luto


Autora: Ludmilla Muniz Machado 

           
Bowlby (1984) partindo das observações de crianças muito pequenas à separação da mãe identifica três etapas principais no processo natural de luto infantil, que podem ser assim sintetizadas:
1)    Protesto: quando a criança não acredita que a pessoa esteja morta e luta para recuperá-la. A criança chora, se agita e busca avidamente qualquer imagem ou som que possa anunciar a pessoa ausente;
2)    Desespero e desorganização da personalidade: quando a criança começa a aceitar o fato de que a pessoa amada realmente morreu, ou seja, o anseio de volta da pessoa não diminui, mas a esperança de sua satisfação esmorece. Por fim, as insaciáveis e barulhentas exigências cessam e a criança torna-se apática e retraída, embora, isso não signifique que esqueceu a pessoa morta;
3)    Esperança: quando a criança começa a buscar novas relações e a organizar a vida sem a presença da pessoa morta.
Assistindo a obra cinematográfica “A árvore” (2011), vemos a história um casal feliz com seus quatro filhos, mas que sofre uma grande perda, a morte do pai. Cada membro familiar reagirá de uma maneira diferente, em especial, Simone, uma menina de oito anos, que era muito apegada ao pai e que estava com ele no momento de sua morte. Simone deixa seu luto de lado e refugia-se na fantasia de que o espírito de seu pai entrou na imensa árvore existente no jardim da casa.
Dawn, a mãe, nos primeiros meses após a perda, entrega-se à sua dor. Vemos, neste momento, uma mulher bastante devastada em seus sentimentos e sem volição para cuidar dos filhos, da casa e seguir a vida. No entanto, aos poucos, até mesmo com ajuda de Simone, a jovem viúva retomará seu equilíbrio com um trabalho e, talvez, com um novo amor.
Ao fazermos correlações entre a teoria do luto infantil de Bolwby e o processo de elaboração de luto vivido por Simone, percebemos algumas características das fases por ele descritas. Identificamos como a fase de protesto o momento em que Simone começa a ouvir a voz do pai vinda da árvore. Podemos, assim, dizer que a menina vive uma negação da morte do pai e que luta para recuperá-lo. Porém, seu processo natural de elaboração do luto é prejudicado pelo reforço dado, por sua mãe, à esta fantasia,: “acho que também ouço”. Segundo Bowlby (1985), a resolução do luto da criança quando da perda de um dos pais vai, em muito, depender da ajuda do pai sobrevivente. Como Dawn, em alguns momentos, também se mostra confusa, oscilando em apegar-se à presença do marido, na figura da árvore, termina por prejudicar o processo de luto da filha.
Torres (1999) afirma que para ajudar as crianças no processo de luto, algumas medidas são importantes:
·         Promover comunicação aberta e segura dentro da família;
·         Garantir que terão o tempo necessário para elaborar o luto, e que terão um ouvinte compreensivo toda vez que expressarem saudade, tristeza, culpa e raiva;
·         Assegurar-lhes que continuarão tendo proteção.
Na família em questão, percebemos que as medidas elencadas por Torres não foram tomadas. A comunicação intrafamiliar ficou truncada, todos se isolaram e os filhos em alguns momentos rivalizaram. Dawn, como já foi dito, fechou-se em sua dor, e não foi uma ouvinte compreensiva para o sofrimento e angústia de seus filhos. Quando se fortalece um pouco mais, Dawn busca a atenção dos filhos. Esta atitude, mesmo que tardia, foi importante para reparar os estremecidos laços familiares.
Neste momento, mais um personagem entra na trama. George é encanador e proprietário da loja em que Dawn trabalha. Os dois terminam por se apaixonar, e vivem esse relacionamento junto à família. Simone não aceita o namorado da mãe, simbolizando o romance como um desamor da mãe ao pai. De acordo com Kovács (1992), quando a criança não consegue se desidentificar, pode surgir o desejo ou a necessidade de se reunir com a pessoa perdida, resultando, muitas vezes, em impulsos destrutivos. É o que acontece no caso da menina, ela começa a arriscar-se na linha do trem, dormir ao relento na árvore e subir no topo da árvore para evitar que esta seja derrubada.
A história, então, diminui seu ritmo. Dawn rompe o relacionamento com George e voltando-se inteiramente aos cuidados dos filhos, da casa e da árvore. Enquanto isso, as raízes e os galhos da enorme figueira comprometem a estrutura da casa, adentram cômodos, inviabilizam encanamentos e invadem o quintal dos vizinhos. Mesmo com tantas ameaças, a família se une cada vez mais, entre si, com a casa e com a árvore.
Como fechamento desse ciclo, que mais parece uma despedida compartilhada do pai, acontece a anunciada passagem de um furacão. Todos se abrigam no porão da casa, exceto Simone. Dawn percebe a ausência da menina e segue desesperada a procurá-la. Simone é encontrada em pé em um galho da árvore, bem junto ao tronco. É uma cena emocionante e neste momento podemos supor que a menina vivia a segunda fase descrita por Bowlby desespero e desorganização. Inferimos que Simone começa aceitar que o pai realmente morreu, e de certa forma despe-se dele. Lentamente desce da árvore e segue para abrigo com a mãe.
A cena final mostra a família deixando a casa que foi totalmente destruída pelo furacão. Seguindo um novo caminho Simone pela primeira vez chora e parece encaminhar-se a terceira fase da elaboração do luto. Fase em que irá surgir a esperança de buscar novas relações e de organizar a vida sem a presença viva do pai.
Afirmamos que o filme “A árvore” foi muito feliz quando se propôs a explorar a temática do processo de luto infantil. Pudemos perceber em sua trama o sofrimento e a desagregação de uma família travessada pela perda significativa de um de seus membros e o desenvolvimento de várias formas de luto. Simone que inicialmente percorre um caminho patológico, ao final, com a ajuda de sua mãe, consegue retomar o curso natural na elaboração de seu luto. Concluímos que o luto está finalizado quando as lembranças da pessoa perdida são internalizadas em paz, e os interesses voltam-se as novas relações, é o entendemos ter acontecido com a menina.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

KOVÁCS, Maria Júlia. Morte e Desenvolvimento Humano. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1992.

TORRES, W.C, A criança diante da morte – desafios. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999.

Sites acessados:
http://www.cinemanarede.com/2010/12/critica-arvore.html
http://www.interfilmes.com/filme_v1_24453_A.Arvore.html#Elenco
http://www.cinepop.com.br/criticas/arvore_101.htm

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